faz frio.
sai na rua.
leva às mãos à boca e por ali expira
fazendo força, barulho
pra ver se sentia mais quente
olha ao redor:
a pessoa ao seu lado
fecha os olhos com apaziguamento
pra receber o sol:
é quase um carinho,
um acalanto.
essa pessoa não parece tiritar
não treme nem se esfrega.
pela primeira vez em seus 38 anos
repara em seu próprio e excessivo frio:
nunca pensara sobre de onde veio
ou se ficava tempo demais.
veio de lugar mais ao norte
mais quente
mais calmo
mais amigável
no início
– 19 anos atrás,
sentia mesmo era frio.
muito frio.
o suficiente para nem sentir
a solidão da falta
da família, de amigos,
da descontração, de um lugar pra chamar de seu.
