carregando...
das mesmas profundezas
onde me assusto
com o imprevisível
onde acho
sentimentos insólitos
emaranhados em minhas raízes
está aquele sentimento
que me envolve
como um cafuné
quero ficar
quero correr
ficar e correr
ficar inteira,
deitada,
alerta
correr firme,
vibrante,
entregue
correr do susto
como se emaranhados
ficassem pra trás
fincar o pé
nas raízes fortes
despida de todo o resto
pra que brote
o que tiver
pra brotar
talvez sejamos mesmo
isso tudo e algo mais
querer ficar e querer correr
se saber inteira e faltante
cheia de convicções e vazios
natureza que se recria
sempre desejante,
enquanto sendo.
uma dor-bombardeio
de desesperança
incômodos individuais
de uma cratera coletiva
a dor é real
de todas que sentem
o momento
não a afastaremos assim
não tão fácil
desoladas, ainda
podemos caminhar juntas
ao encontro de uma saída
caso não seja o encontro uma saída
será um caminho
ou um afago no caminho
nós, movidas por ideais e afetos
não podemos nos esquecer do carinho
nem dos encontros
e que possam se encontrar também
nossos fantasmas e desesperanças
que não são apenas nossos
uma humanidade inteira
pode ser o tempo necessário
pra nossa dor cessar
pra vermos as pessoas se cuidarem com amor
e realmente praticarem que nenhuma existência
é propriedade de ninguém
e nós seguiremos
juntas e firmes
acreditando que o encontro e o carinho
são também caminho.
#MariellePresente
como num redemoinho
uma força me puxa
para a base
rodando
rodando
rodando
sacolejo e farejo a poeira no chão:
meu nariz chega a chamuscar.
como o redemoinho,
volto para o mesmo lugar
para sair mais acima depois
serpenteio até o topo:
de cima, há perspectiva
me engasgo
com tanto oxigênio
e vejo minha pele esvoaçar como se fosse feita de plumas
- uma p'ra cada lado
cinzas
brancas
verdes
azuis
negras
roxas
vermelhas
douradas:
todas me habitavam
onde? não sei,
mas eram muitas.
e agora saem
cirandeando o furacão
no inquestionável
tempo do vento
no inquestionável
tempo do tempo.
-
não haverá rigidez que resista,
não haverá.
não haverá brisa que se repita.
pensava ser possível sair
pela tangente do olho
de um furacão
não fosse eu plumas multicor
que seguem caindo
e girando e caindo,
orbitando,
sendo parte
do próprio tempo-furacão.
a dor que lhe habita vem
de dentro das suas células
o medo que lhe enrijeceu
chegou antes que se pudesse negá-lo
por quem queria lhe proteger
da dúvida, veio o vazio
do vazio, mais dúvidas
que lhe permitiram ser assim.
viver é tão mais complexo
sobreviver tão corajoso:
não se pede nada além
de que você viva. e seja.
essa força complexa que você é
desde que vingou, exatamente como você é.
bem-vinda.
você conseguiu.
o vazio.
a dúvida. a dor.
na origem de tudo estava,
antes, o amor.
aquela mulher abrigava
esperanças, abrigava
a dúvida, o medo
a autenticidade e o cuidado
aquela mulher acolhia
a memória do que não pode ser
esquecido sem ser antes entendido.
carregava honra
e a coragem de quem, frágil frágil
deu a força que tinha
– e foi suficiente.
nela repousava o medo
de viver e falhar
de sobressair e morrer
e repousava o desejo de viver.
todos esses sentimentos
precisaram estar ali: juntos
em determinados momentos.
tudo tem seu tempo
e o tempo nunca é o mesmo.
na origem de tudo
segue estando o amor.
e, antes disso,
a precisão de aprender a amar
cada centímetro de quem podemos ser
nesse tempo que nos
entendemos humanas.