não sabe
entende
e faz
sabe
entende
e
faz
sabe
entende
aceita
e faz
sabe
entende
não aceita
e faz
sabe
desentende
não aceita
não faz
sabe
desentende
não aceita
e faz
– só que ao CONTRÁRIO. ∞
raiz forte
firme pra não despencar
pronta pra chacoalhar
pronta praquele próximo momento
mesmo sem se sentir pronta, pronta.
exatamente por não se sentir pronta, pronta.
jamais irretocável.
graças.
(poema publicado no livro Tremores Nômades e Fortes)
se tudo der certo,
a essa hora estarei indo dormir
depois de me nutrir de poesia
escrita e observada,
vivida.
se tudo der certo,
deixaremos o corpo falar mais
que as razões que lhe atribuímos.
será o que tem que ser
e entenderemos isso,
sem precisar entender tudo.
relutaremos:
contra o sono,
contra o tédio,
contra as razões.
até entender
o que os sentidos já haviam dito
e teimamos em esquecer,
esconder…
se tudo der certo,
reconheceremos o que teimamos esquecer,
antes tarde que mais tarde,
no tempo que for…
sem fugir da dor
que o inacabado deixa,
até entendermos
que o inacabado valeu o processo,
e era mesmo o fim
do que tinha que ser.
explicar o inexplicável,
aceitar que o amor segue conosco
(nem sempre tem a chance de ser escrito a várias mãos)
duas já bastam
pra dar forma
e sentido
ao intangível.
em tudo dando certo
nos entenderemos,
perto ou longe,
nos movimentos
que a vida traz.
somos coisas que palpitam
que reverberam
respiram e resfolegam.
coisas, às vezes, pensantes
muitas, falantes
poucas, ouvintes.
reverberamos ao sentir
o sangue correr do lado de dentro
e o vento do lado de fora,
até que o vento vira algo dentro,
direto no sangue que corre.
sentimos o cheiro da chuva por vir
e a chuva que chega molhando a pele dos nossos braços e couros cabeludos.
palpitamos, sem notar.
são encontros como esses,
vento com o sangue,
cheiro da chuva por vir com a pele,
que fazem essas coisas
– chamadas “nós” –
reverberar.
NM
Olhe!
É preciso olhar bem – e fundo (pra baixo também)
Para encontrar esse mundo.
Pela trilha passava
Os fundos da casa avistava
Escondido entre as árvores
Escondendo seus ocos
e suas intimidades.
Uma calcinha no varal
Atrás de um pano de prato
Uma vassoura sem cabo
Uma muda a ser replantada
Um balde meio lascado
Uma parede rachada
Pela trilha passava
E um bambuzal avistava
Nem enorme nem minúsculo,
Mas um bambuzal diminuto
Que em nada se destaca
A não ser por seu ilustre convidado
O homem bambu
Tem chapéu e casaca
– um fraque, aliás –
Um tom acima da calça
Tem também lenço e gravata.
Sapatos de bico fino
E um sorriso estampado.
Seu tamanho não faz casa
nem pra uma aranha,
Foi esculpido ali mesmo
Junto, grudado,
Ao pé do bambuzal
No que um dia foi vara
Hoje mora o homem bambu.
Pela trilha passava
Pessoas ao longe avistava
Ilustres desconhecidos
Futuros – quem sabe – amigos
Às margens do rio
Pescam, nadam, fumam, caminham
Jogam conversa fora
Pela trilha passava
E o instante avistava
Um cachorro que persegue as canelas
Do menino que corre observando as pedras
Em que a água corre fazendo espumas
Por baixo da ponte improvisada
Olhe!
É preciso olhar bem – e fundo
(pra dentro também)!
Para se encontrar nesse mundo.
a verdade toda ao redor
às vezes se dissipa
…
em pó.
de armadilhas
e trilhas
trilhas e
armadilhas
estamos cercados!
estamos em obras.
mas sempre há caminho
para algo além da “verdade”
não se agarre
não se isole
– não pra sempre, ao menos.
se desembole!
crie asas
crie penas
crie ouvidos
crie pernas
(…)
fôlego
respira
inspira
os outros são terríveis
os outros são você
vários e vários
aquém. além. amém.
não sabe
entende
e faz
sabe
entende
e
faz
sabe
entende
aceita
e faz
sabe
entende
não aceita
e faz
sabe
desentende
não aceita
não faz
sabe
desentende
não aceita
e faz
– só que ao CONTRÁRIO. ∞
as coisas são assim
pois há muito o que tecer
e elas (as coisas!) não deixam de ser assim
pois há poucos a tecer o que teria que ser.
continue lendo o mundo por tecer (sub-verso dos não subvertidos)
abafam
estarão eles a cantar
quando mesmo há poucos metros do seu canto
não os ouço?
e quando se vão os carros
o pássaro logo me avisa:
bem te vi
– sem me ouvir!
bem te vi.
tem dias que gostaria é de andar nua na rua
assim como veio ao mundo.
não para agredir nem para ofender
– e corpo ofende?
será que sete bilhões de pessoas
se ofendem consigo mesmas
todos os dias ao se olharem?
queria sair nua na rua pra sentir sol e vento
e, principalmente, pra brincar de ser livre
– um pouco.
mas um sistema desenhou que não pode.
não pode pois nem todos sabem se comportar
pois os meninos podem ficar ouriçados
pois nem os tarados andam nus na rua
– deles costuma-se ver apenas partes nuas d’um corpo coberto de panos (e de hipocrisia).
talvez quando for velha gagá, fuja de casa
nua na rua. talvez quando nem gagá for
– mas tiver idade para aparentar.
às vezes
é melhor calar!
(dois ouvidos, uma boca – já sabe.)
palavras, quanto mais bonitas são,
mais se avizinham de serem também perigosas.
oportunistas quando sedutoras.
frágeis quando
sinceramente delicadas
suscetíveis quando
delicadamente compartilhadas.
há palavras
que sangram
que iluminam
que cativam
que apaixonam
há as que até fazem aflorar
coisas encantadas
ou apodrecidas.
não é fácil, mole ou simples
pra nenhuma palavra
que tanto diz
mesmo quando pouco quer dizer.
não há palavra certa
nem mesmo silêncio
para momentos de condolências,
perdão ou arrependimento.
mas sempre há uma palavra e
sempre há um silêncio
pra criar, mudar ou encerrar momentos
para não consentir e descontinuar.
(quem cala consente!)
no silêncio ou na palavra
sempre há escolha.
—–