“Às vezes, parece que o fim tá sempre perto. Mas eu tô começando a achar é que toda hora é um inicio. Vivemos achando que estamos a continuar o que foi começado ontem, quando na verdade estamos a iniciar momentos, todo o tempo. Parece a mesma coisa, mas não é – há um descolamento maior que parece entre ontem e hoje e hoje e amanhã. O único determinante é haver agora. É chegarmos ao agora sabendo que ele podia não ter chegado pra gente. E estar no agora, agora, que é quando se pode estar nele. O único determinante é estar presente no agora. E estar no agora, agora, que é quando se pode estar nele.”
Olharam-no como se fosse doido. Mas só quem viu a fugacidade da vida tão de perto poderia entender. Não que esta não se mostre o tempo todo. O tempo todo pode estar aí. Uma arma na cabeça ou um carro desgovernado, porém, deixam isso mais claro. Tudo isso mais claro. Por uns segundos e uma série de coincidências não haveria ontem. Teria acabado tudo por ali e não havia de chegar amanhã pra haver ontem. Seria o fim. Agradeceu. Mesmo sem saber a quem, por não ter esses hábitos de vida superior, agradeceu só por estar vivo.